Novo vazamento de caulim no Pará revela, outra vez, a irresponsabilidade do setor mineral na Amazônia

01/11/2016, às 16:35 | Tempo estimado de leitura: 5 min
A empresa francesa Imerys tem histórico de vazamentos em Barcarena e nenhum plano para evitar novos acidentes na região.

A empresa francesa Imerys divulgou nesta segunda-feira (31/10) que ocorreu um novo vazamento de rejeitos do beneficiamento do caulim em Barcarena (PA), o quarto sob sua responsabilidade na região – os outros ocorreram em 2007, 2008 e 2014. O rejeito de caulim, minério usado na fabricação de artigos de porcelana, na indústria de papel, borracha, plásticos, pesticidas, farmacêuticos e fertilizantes, entre outros, vem causando diversos danos socioambientais na região.

A Imerys, juntamente com a Vale, domina o mercado de produção de caulim no Brasil com 40,9% da produção nacional, e é a maior beneficiadora desse minério no mundo. O caulim extraído em Ipixuna (PA) é enviado por mineroduto para Barcarena onde a Imerys opera sua unidade industrial (a maior do mundo) que inclui a secagem, a embalagem e o terminal portuário privativo que exporta quase a totalidade da sua produção. No Pará, a mineradora francesa tem duas minas de extração de caulim.

“Barcarena é um triste retrato da relação entre a grande mineração industrial e violação dos direitos sociais e ambientais na Amazônia”, afirma Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), lembrando que o histórico de vazamentos e contaminações do meio ambiente na região também inclui outras empresas, como a norueguesa Hydro Norsk, que explora a bauxita para a produção de alumina e alumínio.

Segundo Alessandra, ações do Ministério Público, incluindo a edição de Termos de Ajustamento de Conduta – TACs, não foram suficientes para proteger a população e o meio ambiente e muito menos para evitar novos acidentes causados pelas empresas que beneficiam minérios em Barcarena. “Tampouco o governo do Estado e a Prefeitura parecem de fato comprometidos em barrar a atuação criminosa das empresas e proteger sua população”, diz Alessandra. “Não bastasse sua atuação ambiental e socialmente temerárias, as empresas se mostram pouco responsáveis pelo quadro de desemprego vivido pelos moradores da cidade. Em outubro, a Hydro contratou um empresa baiana e a mesma trouxe toda mão de obra daquele estado para ocupar os novos postos de trabalho abertos, sob o olhar e a expectativa, frustrada, dos 30 mil trabalhadores desempregados da cidade.”

Saiba mais:

Onde menos se espera: vivendo com a indústria do alumínio e do caulim na Amazônia brasileira

Os problemas ambientais, de pobreza, de falta de infraestrutura e de perspectivas para a população de Barcarena só se acumulam, mostrando “a face sombria e pouco atraente do modelo mineral brasileiro do qual Barcarena é um forte marcante, mas que poucos querem enxergar”, afirma Alessandra.

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) acionaram a Justiça pedindo providências urgentes para possibilitar que a população de Barcarena tenha acesso à água potável, com base em pesquisas da Universidade Federal do Pará (UFPA) que comprovam a contaminação por metais pesados na água consumida por moradores do município. Segundo a mineradora Imerys, o vazamento desta semana não atingiu outra região além da praia de Vila do Conde, que fica em frente ao porto privado da empresa, mas o histórico de contaminação de rios, nascentes e córregos, causando problemas de abastecimento de diversas comunidades da região, colocam em xeque a informação da empresa.

Vamos falar um pouco mais de questões socioambientais?


Categoria: Notícia
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