Mapa mostra abismo social entre periferia e Plano Piloto do DF

12/12/2016, às 11:30 | Tempo estimado de leitura: 10 min
Falta de acesso a serviços e à cultura é uma realidade para moradores de cidades carentes. No polo oposto está o rico Plano Piloto

Publicado por Metrópoles.

Aos 50 anos, João Lino Oliveira, morador da Estrutural, foi ao cinema apenas duas vezes. Vendedor ambulante, não tem acesso a plano de saúde e, portanto, reúne pelo menos duas das principais características comuns à maioria da população da cidade, considerada uma das mais carentes do DF. O abismo social entre a região e o Plano Piloto foi revelado em um Mapa da Desigualdade chamado de “desigualtômetro”.

A medição social foi feita pelo Movimento Nossa Brasília, o Instituto de Estudos Socioeconômicos ( Inesc) e a Oxfam Brasil e divulgada recentemente. O estudo se propôs a comparar dados sobre mobilidade urbana, saúde, educação, cultura, saneamento básico e meio ambiente, segurança pública e trabalho e renda de diferentes regiões. Os primeiros números obtidos são de Samambaia, São Sebastião e Cidade Estrutural, onde João Lino mora há 17 anos.

A partir do “desigualtômetro”, termo criado pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, o mapa mostra diferenças significativas no acesso a determinados bens e serviços entre os moradores da região central e das áreas periféricas no Distrito Federal.

Um dos indicadores que chamou a atenção dos pesquisadores foi a taxa de escolaridade da população de cada região. Enquanto no Plano Piloto somente 0,4% da população é analfabeta, na Estrutural, esse índice é de 5,8%.

Na área de saúde, o mapa aponta que o “desigualtômetro” do Plano Piloto chega a ser 15 vezes superior à região da Estrutural. Na região central, 84,4% dos moradores possuem plano de saúde enquanto na Estrutural, esse número é de 5,6%.

Outra disparidade que chama a atenção. Assim como João Lino, 89% dos moradores da Estrutural não vão ao cinema. No Plano Piloto, ocorre exatamente o contrário: 71% dizem que têm esse como um de seus programas culturais. Em Samambaia, esse número cai para 17% e, em Samambaia, 35%.

João Lino reclama da falta de investimentos em educação, saúde e saneamento básico na região. “Está tudo concentrado no Plano. Nós ficamos completamente desamparados. A classe que mora aqui é a de pessoas que não tem oportunidade. Falta de tudo. Desde postos de saúde a escolas suficientes para atender a todos. O governo está neutro à nossa situação”, desabafou.

A pesquisa foi desenvolvida de forma colaborativa. Oficinas abertas nas três regiões contaram com a participação de movimentos sociais para a elaboração do mapa. As atividades começaram com letras musicais de artistas locais.

Em Samambaia, o tema escolhido foi “O Chafariz”, do rapper Markão Aborígine, que retrata diversos aspectos sociais, políticos e culturais da cidade. Em São Sebastião, a música utilizada foi “Imagem de Rua”, do grupo SOS Periferia, clássico da cidade.

Na Cidade Estrutural, o som do grupo Visão Realista “Na Quebrada”, complementou a crítica a atual situação das periferias brasileiras.


Para o professor de sociologia Bruno Borges, o cenário de desigualdade no DF pode ser uma consequência do crescimento desordenado das regiões e o aumento da criminalidade nas cidades. “Brasília tem hoje o maior PIB do país, só que isso não se estende às demais cidades do DF e Entorno”, disse.

Segundo Borges, trabalhar a desigualdade social e direitos humanos tem se tornado uma prática cada vez mais necessária. “O maior desafio do DF é superar a pobreza, para fazer com que a desigualdade social diminua. Além disso, o papel do Estado é de minimizar as diferenças através de políticas públicas”.


Categoria: Notícia
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