“A minha escola dos sonhos seria humilde: um lugar aconchegante e mais respeito entre alunos e professores”

09/07/2021, às 10:46 (atualizado em 09/03/2023, às 17:37) | Tempo estimado de leitura: 7 min
Com 19 anos, MC Favelinha é um compositor potente. Participou de ações do Inesc feitas por adolescentes que cumprem medida socioeducativa no Distrito Federal. Ele se tornou MC para conquistar o sonho de melhorar sua vida e a da sua família.

Conheça

Você nasceu no DF? Onde você mora hoje e que ano você está?

Sou candango. Nasci em Taguatinga mas sempre morei no Recanto das Emas, Hoje estou no terceiro ano, acabou que atrasou um pouco pela pandemia e também porque eu estava estudando dentro do sistema socioeducativo e teve falta de professores lá, mas mês que vem já devo estar finalizando o terceiro ano.

Como foi sua vida escolar quando era mais novo? Como eram as escolas que você frequentou?

A melhor escola que estudei foi no 206, no Recanto. Estudei a maior parte da minha infância lá. Uma escola que não foi tão legal para mim foi uma em Taguatinga, na comercial norte. Lá era muito rígido, diferente para nós que éramos do Recanto, de quebrada. Não consegui me acostumar.

Como foi o processo de criação da música Escola dos Sonhos?

Então, o convite veio do meu mano Markão Aborígene. Ele me fez o convite, me explicou que seria feita uma campanha, tinha pensado em mim e pediu para eu compor uma música. Aí eu comecei a pensar só no tempo da escola. Quando eu falo “escola de maderite” é a escola da 401 do Recanto, anos atrás. Foi uma escola que fez parte da minha infância. Também conversei com a molecada da quebrada, do Recanto, perguntei como seria uma escola dos sonhos… aí os moleques foram me passando umas palavras e a partir dessas palavras eu fui montando o quebra cabeça, quando foi ver a música estava aí. Tive ajuda também do Markão, em colocar umas palavras que não chegam tão agressivas para quem vai escutar. Daí ela ficou favela e ao mesmo tempo ela ficou moderna.

Assista ao clipe!

 

 

E qual o papel do LP? Ele que colocou a batida?      

O LP é uma cara que eu tiro o chapéu. Entre esse começo da minha carreira de ser MC eu nunca encontrei um produtor igual a ele, entende? Ajudou a produzir na hora da melodia, da voz, pegou no pé até acertar a cantar do jeito certo… e a batida é dele, original dele. Eu mandei uma base só e ele fez esse trabalho maravilhoso em cima da letra. Foi assim, em conjunto: eu comecei a escrever em casa, levei para o estúdio, cantei em cima da base, aí eu, o Markão e o LP mudamos algumas palavras e saiu essa maravilha de música. Considero uma das minhas favoritas. Até pelo contexto, porque falar de escola na pegada que ela ficou é muito diferente.

Tem um trecho inclusive que diz “Falei com Yan, Rafael, Daniel e Nicolas do Recanto”. Como foi entrevistar as crianças, o que te chamou mais atenção?

A rapaziadinha da quebrada que hoje está com 10, 11 anos… o que me chamou mais atenção mesmo, acho que foi na conversa com o Ian, em que eu perguntei “Se o governo fizer uma escola digital, com computador, ipad… a molecada respondeu logo “não, não precisa disso tudo aí não! A escola só tem que ser acolhedora, tem que ter liberdade de expressão…” Pô um moleque de 10 anos falar uma palavra dessa para mim! Me chamou muita atenção! Eu comecei escrever ainda meio da rua. “Cadeira confortável”, aquela parte em diante foi tudo eles que falaram, eu fui só modelando. Aí juntou eu, o Markão, o LP e formou.

Você recebeu o kit Escola dos Sonhos, né? O que você achou, o que vc sentiu quando o kit chegou na sua mão?

Eu me senti privilegiado de estar participando dessa campanha.

Como seria a sua escola dos sonhos. Pensando nas escolas que você já passou, o que você mudaria?

Vixe, a minha escola dos sonhos teria muita coisa, o governo gastaria muito, viu? Rsrs Vamos começar pelo reconhecimento dos trabalhadores, né? Eu já vi servidores trabalharem com o maior carinho, se empenharem ao máximo e no final do mês não serem recompensados, a gente conversa muito com os tios da limpeza. E a minha escola dos sonhos seria aquela escola assim humilde, não precisava ter muito, como na música, uma cadeira confortável, um lugar aconchegante, de mais respeito entre alunos e professores, melhores materiais. Com a infraestrutura completa, seja em acolhimento, seja em refeição, seja no design… Mudaria bastante coisa na gestão: a diretora na 206 por exemplo, não deixava ser uma escola daquela comunidade. Ela queria transformar mais para uma escola do plano, com regras que ninguém queria cumprir. Uma escola que tivesse, vamos supor, um bônus, um auxílio para quem vai na escola e se empenha, leva seus materiais.

Quais são seus planos para esse ano? Tem outras composições no forno, mais alguma música para ser lançada?

Tem um álbum vindo esse ano, esperamos que seja o primeiro de muitos!

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Quero só agradecer ao Onda, à equipe Inesc por essa oportunidade que nem eu mesmo estou acreditando até hoje, que ainda não caiu a ficha. Obrigado ao Markão, LP e Tauane!

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